Rebento Rico

E eis que não nos livramos da fava tão cedo...

Ainda os meus dedos dedilhavam pensamentos sobre a riqueza da fava na nossa gastronomia (vide, obviamente, post anterior) e recebi uma oferta generosa da amiga Vanessa: bicos de fava acabados de colher!

Perguntarão alguns de vós: bicos de fava? 

Quem já semeou a leguminosa sabe do que se trata. Os bicos de favas são as extremidades da planta, comummente cortadas na altura da floração para a tornar mais produtiva. É certo que muitas pessoas não os aproveitam, ou os utilizam para a alimentação de animais, mas conforme nos documenta Maria Manuel Valagão em Algarve Mediterrânico. Tradição, Produtos e Cozinhas (livro cuja leitura  fortemente recomendo), os mesmos seriam uma opção alimentícia em tempos de escassez.




Tal como a fava e como a sua vagem, podemos usar estes bicos de diferentes maneiras na cozinha. Utilizem-nos como fariam com qualquer vegetal de folha, como o agrião: podem comê-los em salada, podem utilizá-los cozinhados de diferentes formas. Deixo-vos duas hipóteses:

1. Tempura

Voltei a repetir a estratégia já utilizada com as cascas de fava, conforme vos apresentei no post anterior. Simplifiquei o processo e desta vez fotografei os diferentes passos.

- Lavem bem os bicos de fava (é muito provável que encontrem insectos no meio das folhas e flores) e deixem secar um pouco. Façam um polme ao vosso gosto com alguma consistência (neste, utilizei farinha de grão e água com gás. Temperei com sal e pimenta e acrescentei rama de cebola de primavera cortada fininha).



- Passem os bicos de fava pelo polme (não precisam de os escaldar, queremos que fiquem crocantes!) e fritem-nos. Eu coloquei um fio de azeite numa frigideira e dourei-os de ambos os lados.






- Comam-nos enquanto o diabo esfrega o olho!  



2. Dhal de lentilhas moong, couve-flor e bicos de fava

Já vos tinha destacado a versatilidade das favas e o seu casamento feliz com especiarias. Os seus rebentos não são excepção e harmonizam perfeitamente com pratos bem temperados. A segunda sugestão que vos deixo é este dhal, que fiz do seguinte modo:

- Dourem uma cebola em ghee ou outro óleo do vosso agrado.

- Juntem ao refogado uma mistura de especiarias que considerem boa (não se contentem com as misturas de caril já feitas; acrescentem um toque vosso! Para este dhal, utilizei três misturas de caril que tinha cá por casa e adicionei cominhos, sementes de coentros e cardamomo). Deixem as especiarias torrar um pouco.

- Adicionem as lentilhas e a couve-flor cortada em pedaços médios e um pouco de água quente (idealmente, um caldo de legumes, mas não tinha nada preparado na altura...)

- Deixem cozer uns 8 minutos e adicionem os bicos de fava, leite de côco (uns 400 ml) e sal a gosto. Aguardem 5 minutos, finalizem com coentros frescos e ficam com um rico pitéu!



Uma última dica: naturalmente, os bicos de fava não são um ingrediente fácil de encontrar. O meu conselho é falarem com os pequenos produtores que durante a primavera vendem favas frescas em mercados variados. Eles poderão arranjar-vos, provavelmente a custo zero. 

Aliás, o mesmo conselho é válido para todo o tipo de extremidades e partes de planta menos aproveitadas: rama de cenoura, rama de beterraba, folhas verdes da cebola, rama de batata doce... mas isso já nos dá material para um outro post. Bom domingo e boas experiências gastronómicas!

Comentários