Fava Rica

Começamos a nossa labuta criativa com um ingrediente ora adorado, ora odiado: a fava.

Cá em casa, esta tendência não encontra excepção... enquanto eu próprio anseio ardentemente pela época das favas, os meus filhos esperam que tais anseios não se traduzam em pratos para o almoço ou jantar. Há duas certezas na vida:

Primeira - uma enorme parte de nós não gostava de favas em miúdo;
Segunda - Currents, de Tame Impala, é o melhor álbum de 2015.

Mas adiante...
Uma das estratégias que encontrei para resolver esta dualidade foi a de utilizar as diferentes partes da fava. Como será do conhecimento de alguns, a casca da fava é comestível e presta-se a diferentes utilizações. Há dias, enquanto dedicava a minha atenção a estufar umas belas favinhas com azeite e ervas, reservei as melhores cascas para fazer tempura - se quiserem, uma espécie de peixinhos da horta. Eis o que fiz:

1. Pelei as cascas como faria com o feijão verde - cortam os lados de cada vagem com uma faca ou pelador para retirar a parte fibrosa.




2. Escaldam estas metades de vagem em água a ferver com sal por alguns minutos - diria que 3 é suficiente.
3. Passam-nas por um polme feito ao vosso gosto: podem usar farinha (ou farinha de milho fina, ou farinha de grão, ambas ficam bem) e água com gás, para um polme crocante; podem igualmente acrescentar um ovo, se quiserem uma consistência mais fofa.
4. Fritem-nas em óleo de girassol ou, se quiserem evitar a gordura em excesso, passem ambos os lados das vagens por um fio de azeite, no fundo de uma frigideira.

E têm um petisco óptimo para comer por si só, com um golpe de limão! Também funciona perfeitamente como refeição mais substancial, acompanhado por uma boa salada e um arrozinho de grelos.




OUTRAS SUGESTÕES - VAGEM

Deixo-vos mais algumas ideias para o uso da casca de fava:

- Uma hipótese que muitos dos vossos familiares certamente se recordam é estufarem favas com a sua vagem, à boa maneira tradicional. Neste caso, não é necessário escaldarem as vagens; basta acrescentar as mesmas, cortadas em juliana, na panela onde estão a fazer as favas, uns 10 ou 15 minutos antes de apagarem.
- Experimentem saltear as vagens, já escaldadas, num fio de azeite e alho. Antes de apagar, um bom molho de coentros frescos cortados e um golpe de limão. Até o Bulhão Pato salta da campa perante tamanha heresia!


OUTRAS SUGESTÕES - FAVA

Termino com outras sugestões de utilização da nossa rica fava, bem para lá das favas estufadas com ou sem chouriço:

- A fava é um ingrediente extremamente versátil. Se são fãs de especiarias, experimentem fazer um caril ou um korma de fava e legumes. Grandioso!
- Favas também ligam maravilhosamente com picante. Pensem em pratos calientes do vosso agrado e vejam como a podem acrescentar.
- A junção fava-arroz encontra-se bem documentada na tradição gastronómica portuguesa (os queirosianos que por aí andam lembram-se certamente do saborosíssimo Arroz de Favas que Jacinto prova em A Cidade e as Serras...). Porque não fazer um belo Risotto de Fava, acompanhado por um  Branco da Região do Dão?
- Última dica: um Fallafel de Fava! O fallafel de grão faz-se genericamente com grão demolhado, muitas ervas, especiarias (cominhos... muitos cominhos!) e sal. Tudo é moído como umas colheres de água para criar a uma pasta mais ou menos consistente... o suficiente para moldar umas bolinhas que vão a fritar. Em princípio, não irão precisar de ovo ou farinha para criar ponto, pois a albumina presente no grão de bico (composto que existe também na clara do ovo) é suficiente para a massa não se espalhar. Já têm os princípios básicos do fallafel... agora experimentem trocar o grão por favas frescas!

E tudo são favas contadas!... Até à próxima!


Comentários

  1. Assumindo que o gosto (ou desgosto) pela fava não é, nem se quer, consensual, já a referência ao melhor álbum de 2015 é muito muito discutível... Parabéns pela excelente iniciativa

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